sexta-feira, março 02, 2007

 

viagens

Cedo se habituara a andar sozinha nos mais diversos transportes. Lembrava-se que a Avó muitas vezes a mandava à Baixa fazer uma compra, ia a pé e voltava no eléctrico, dinheiro no porta-moedas, o saco com os objectos pedidos. Também se recorda de ir para casa da Tia Cristina que morava no Porto – levaram-na a Santa Apolónia, e comprado o bilhete , o pai recomendou que não falasse com ninguém a não ser o revisor e só saísse do comboio quando visse a tia ou os primos que estariam na estação , teria uns 10 anos. Um primo mais velho que morava lá para Vendas Novas quase todos os anos insistia para que fosse passar uns dias nas férias …e lá ia no autocarro desde Lisboa, paragem em Setúbal e depois mais uma volta até ao destino.
Anos mais tarde, convidaram-na para ir à Áustria fazer de baby-sitter de dois meninos em plena estação de Inverno, pois os pais das criancinhas queriam fazer sky e não estavam para os aturar; assim passou três semanas de luxo no Tirol e até teve também lições para acompanhar os putos. Regressou às aulas com um bronze espectacular mas foi chamada ao Director porque se esqueceu que em plena Lisboa do sec XX as meninas da época não podiam entrar de calças nos estabelecimentos de ensino.
Fez muitas outras viagens, percursos sempre diferentes, de avião , de barco, de carro que a invadia o prazer de conhecer o mais além …às vezes em grupos, outras com amigos, mas outras tantas só, pelo prazer que isso lhe dava. Adorou daquela vez que não reparou na data e chegou a Roma com um dia de avanço …qual grupo, qual viagem organizada, qual o quê!...não se atrapalhava, não se perdia, gozava o infinito prazer de se encontrar num local desconhecido onde todos falavam uma outra língua , onde tudo lhe era simultaneamente tão estranho e tão familiar!
Educou a filha na mesma onda , ou seja , na verdade a filha herdara todos esses genes da mãe. E agora já crescida, seguia-lhe a passada, independente mas muito responsável. Organizava e planeava as saídas com os amigos, os estudos , as viagens, aprendendo os caminhos, as estradas, os melhores percursos, tendo-se habituado a conduzir para qualquer lado logo que tirou a carta. No entanto, esbarrava com o superproteccionismo (ou a prepotência ) de certos pais que não deixavam os meninos sair nem sequer para um fim de semana. Como naquela vez em que tinham combinado ir a Aviz visitar o Zé e a Carla que estavam no estágio e a mãe do Diogo disse que não os deixava sair de Lisboa às quatro da tarde pois iam chegar de noite …
Ai Mãe , que tenho medo do escuro!
(as duas últimas fotos são do blog Rio das Maçãs)


Comments:
Eu nunca pude sair com as amigas, e muito menos com os amigos, porque o meu pai não deixava.
Muita coisa me passou ao largo. Quando as amigas iam para a praia, para o cinema ou a discoteca e me convidavam, eu tinha sempre de dizer não, porque já sabia que não podia. Depreça deixaram de contar comigo, e ficava sempre áparte das converças.
E assim passei a adolescencia, sem poder viver o mesmo que os outros, porque o pai não deixou.
Beijos.
 
pandora

esta cena começou há muito. O meu pai era uma pessoa muito rígida, de velhos costumes. Mas criou-nos , pelo menos a mim, sem grandes superprotecções e como muitas vezes os tios ou os primos nos convidavam , lá iamos nós ou eu sozinha no comboio ou no autocarro... Muitas vezes passávamos alguns dias na casa da minha avó em Lisboa e ela habituou todos os netos a saberem deslocar-se nos transportes e a conhecer Lisboa, a lidar com o dinheiro fazendo pequenos recados na retrosaria, na mercearia ou mais tarde até a ir ao Banco levantar a pensão que ela tinha.
Para a época , o meu Pai dava alguma liberdade desde que não saissemos em pares certos (nº de rapazes=nº de raparigas...) ,mas podiamos ir ao cinema , a alguma festa de anos ou estudar para casa de alguma amiga ou vice-versa.
Desde que a minha filha nasceu sempre trouxe os amigos dela e às vezes vinham passar o fim de semana ou vinham jantar dormiam e levava-os para a Escola no outro dia de manhã. Mas havia pais que nem nessa altura deixavam essa convivencia saudável das crianças, tão importante sobretudo se falamos de filhos únicos, a generalidade das crianças hoje em dia... Por isso hoje continuo a acahr saudavel que ela saia com os amigos, que se divirta, que vá a praia, ao cinema,à discoteca, que queira acampar, que queira fazer um inter rail...Ela é uma óptima aluna, as companhias nunca me ofereceram qualquer reparo, só tenho a dizer bem por isso não entendo estas proibições (APESAR DAS LIMITAÇÕES QUE HOJE TODOS TEMOS COM O VANDALISMO, OS ASSALTOS, O DESVIO DE MENORES ETC ETC)
Mas como em tudo temos de saber conviver com isso e não é proibindo q resolvemos o assunto.
Lamento todos os que passam a infancia e a adolescencia como tu passáste, sem conhecer certas "aventuras", certos contactos e experiencias, acabando um dia por ser deitados às feras, sem estar preparados para tal e sofrendo depois muito mais .

Beijos para ti. E que saibas criar de forma diferente as tuas filhas.
 
Com as andanças das migrações do Blogger para o Beta e das sequentes experiências, acabei por perder este link.
Mas cá cheguei, ao recapitular um comentário recente no meu blogue.
Cheguei, li e gostei...imenso.
O texto é bem elucidativo duma época em particular mas também do presente. É bem verdade que a vida está cheia de perigos, armadilhas, guerrilhas, roubos, raptos, etc etc mas, é como diz, temos que deixar que os jovens aprendam com a experiência (mas tem que ser minimamente controlada, acho eu...vêem-se para aí coisas, desgraças tamanhas que se fica com receio da própria liberdade. Que contrasenso?!...).
Eu dei a liberdade necessária aos meus filhos e não me arrependi. Já são adultos, perto dos 40, e parece que tudo vai correndo dentro dos cânones normais.
A experiência é a grande Mestra da vida.
Já lá dizia Damião de Goes, que eu gosto muito de citar.
Bj
António
 
asn
Claro, António. Liberdade não é libertinismo nem deixar fazer tudo o que os meninos querem nem devem, é estar com eles, acompanhá-los, conhecer os amigos e convidar para estarem tb cá em casa. Deixá-los ir a casa de outras pessoas, conviver, sair. Quando ela fez 10 anos , recebeu de prenda ir passar umas férias na Bélgica , em casa de uns amigos nossos - foi sozinha no avião, à guarda da hospedeira, à chegada tinha lá a outra "mãe" e adorou!Aos quinze foi aos Açores com uma colega cujos pais são nossos amigos; aos dezoito apanhou o avião sozinha para ir ter com os primos; tirou a carta e conduz lindamente, só às vezes não sabe os caminhos dentro de Lisboa...
Gradualmente foi-se responsabilizando, habituando, preparando para qualquer eventualidade em que tenha de estar fora da casa dos Pais, viver no estrangeiro, fazer um estágio ou saír para ter a sua própria casa. Terá de estar preparada para tudo isso - mesmo para chegar de noite a uma qualquer cidade que não conheça. E descobrir um alojamento ou um sitio onde comer ou simplesmente a casa dos amigos.
Tal mãe tal filha... mas é assim que eu entendo que devem ser preparados , tal qual como se dá banho logo nos primeiros dias, se cortam as unhas, se ensina a ler e escrever. E a dar os bons dias. E a dizer Obrigada!
 
Nos dias de hoje os pais nem 100 metros deixam os filhos caminhar sozinhos, sem companhia... falo por mim.Os tempos mudaram...
Tentei ver se tinha recebido o teu comment no mail, mas de facto nao deve ter gravado após a tua escrita :-(
Beijos e bom fim de semana para ti
 
Esta história faz-me lembrar a adolescência. O que mais se ouvia lá em casa era "não". Mas eu achei o meu caminho assim mesmo e hoje só não piloto o avião porque não tenho brevê.

beijos de fim de semana
 
sorrisos
há alturas e épocas para tudo... e não os podemos trazer numa redoma nem eles querem. Não é aos 30 anos que os deixamos andar sozinhos na rua porque nessa altura já estão tão traumatizados que nunca saberão atravessar a rua ou ir dar um corte no cabelo sem ir com a mamã atrás ...conheço uma assim e o marido acabou por a deixar em casa com a bendita sogra porque já não aguentava mais (nem sei se tb metia a maezinha na cama, porque não dava um passo sem a mãe atrás!)
Em qualçquer altura os nossos filhos poderão ficar sem nós, poderão ficar numa Faculdade longe de casa ou num emprego e nessa altura terão de estar preparados senão o choque é enorme. Tentei sempre fazer as coisas gradualmente, hoje uma novidade , amanhã outra; primeiro leva-se até à sala de aula, depois deixa-se à porta da escola , depois ensina-se a atravessar a rua ou a ir comprar o pão enquanto estamos de perto a vigiar. Depois , eles começam a ir para a escola sozinhos, almoçam mpor lá, por vezes têm aulas até às 7h da noite ou têm de fazer trabalhos de grupo com os colegas. Depois começam a festejar os anos fora de casa e pedem para ir jantar ou até ao cinema. Então fazem 18 anos e é o ano das grandes festas .É tb o ano do 12º em que são finalistas e normalmente não só fazem a viagem à "estranja" como têm o famoso Baile de Finalistas que só acaba na manhã seguinte. No 9º ano o Baile acaba mais cedo e os pais ainda participam nos desfiles e abrem o baile com as filhas ou os filhos com as mães... Depois, a vida é deles, os bailes, os momentos , as idas à praia ou ao cinema . Nós não temos lá cabimento. Começam os fins de semana, os interrails, os campismos e pedem a Carta, porque é mais seguro virem de carro mesmo q seja tarde do que ficarem à espera do 1º transporte no dia seguinte...

Mas hoje , sinceramente , não entendi a lógica da mãe do Diogo que conheço desde os quatro anos: não deixou o filho sair de carro às quatro da tarde porque chegariam ao principio da noite, mas deixou que fossem de autocarro a sair de Lisboa em hora de ponta e a chegar 3 ou 4 h depois, sem jantar e ficando eles longe do sitio para onde vão ficar instalados ( e se há um assalto lá na vila? e se o motorista se passa? e se ? ... e se?...)

Por tudo isso . sorrisos , nunca me arrependi da forma como eduquei a miúda! Beijinhos
 
sorrisos
há alturas e épocas para tudo... e não os podemos trazer numa redoma nem eles querem. Não é aos 30 anos que os deixamos andar sozinhos na rua porque nessa altura já estão tão traumatizados que nunca saberão atravessar a rua ou ir dar um corte no cabelo sem ir com a mamã atrás ...conheço uma assim e o marido acabou por a deixar em casa com a bendita sogra porque já não aguentava mais (nem sei se tb metia a maezinha na cama, porque não dava um passo sem a mãe atrás!)
Em qualçquer altura os nossos filhos poderão ficar sem nós, poderão ficar numa Faculdade longe de casa ou num emprego e nessa altura terão de estar preparados senão o choque é enorme. Tentei sempre fazer as coisas gradualmente, hoje uma novidade , amanhã outra; primeiro leva-se até à sala de aula, depois deixa-se à porta da escola , depois ensina-se a atravessar a rua ou a ir comprar o pão enquanto estamos de perto a vigiar. Depois , eles começam a ir para a escola sozinhos, almoçam mpor lá, por vezes têm aulas até às 7h da noite ou têm de fazer trabalhos de grupo com os colegas. Depois começam a festejar os anos fora de casa e pedem para ir jantar ou até ao cinema. Então fazem 18 anos e é o ano das grandes festas .É tb o ano do 12º em que são finalistas e normalmente não só fazem a viagem à "estranja" como têm o famoso Baile de Finalistas que só acaba na manhã seguinte. No 9º ano o Baile acaba mais cedo e os pais ainda participam nos desfiles e abrem o baile com as filhas ou os filhos com as mães... Depois, a vida é deles, os bailes, os momentos , as idas à praia ou ao cinema . Nós não temos lá cabimento. Começam os fins de semana, os interrails, os campismos e pedem a Carta, porque é mais seguro virem de carro mesmo q seja tarde do que ficarem à espera do 1º transporte no dia seguinte...

Mas hoje , sinceramente , não entendi a lógica da mãe do Diogo que conheço desde os quatro anos: não deixou o filho sair de carro às quatro da tarde porque chegariam ao principio da noite, mas deixou que fossem de autocarro a sair de Lisboa em hora de ponta e a chegar 3 ou 4 h depois, sem jantar e ficando eles longe do sitio para onde vão ficar instalados ( e se há um assalto lá na vila? e se o motorista se passa? e se ? ... e se?...)

Por tudo isso . sorrisos , nunca me arrependi da forma como eduquei a miúda! Beijinhos
 
pitanga

tb ouvi muitos Não e não porque eu não quero, mas fui dando a volta ao texto e hoje estou como tu, só por acaso não tirei o brevet nem a carta de marujo


beijokas
 
Eh, eh, Greentea que somos mulheres de armas.

beijos de Santos Dummont
 
Olha, brevet não tenho mas carta de marujo sim... se quiserem navegar comigo até à ilha...

Beijos
 
pitanga

agradeço os beijos do Santos Dummond mas a Maria faz um convite delicioso que acho vou aceitar...queres vir?
 
maria

aceito o convite, sim senhor .

Vamos combinar isso porque há muito que ando com vontade de retornar à ILHA.

Um beijo
 
Gostei muito do texto e das imagens. O velho 31 que tantas vezes me transportou para a Cidade Universitária...ia sempre para o andar de cima...

Gostei!

um abraço.
JPG - O Sino da Aldeia & outros
 
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