quinta-feira, março 30, 2006

 

Junto à Rua do Carmo...

Foi na Senhora do Monte que te conheci. A noite ia adiantada quando decidiste arrastar-me até lá com um coração salpicado de medo...mas uns olhos mortos de curiosidade. Sim, porque àquela hora não soa bem ser convidada para ir à Senhora do Monte e os olhos devem ter mostrado o pânico que se soltava.Voltei a estremecer, mas desta vez de emoção, quando abri os olhos lá em cima e vi Lisboa toda ajoelhada aos meus pés. Lisboa parecia ajoelhar-se, mas estava bem levantada, ufana da sua beleza. A noite escondia-a atrás dos «velhos outeiros…com o seu casario escorregando pelas encostas».Lisboa pulsava e estava fremente de encanto, pronta para me «cativar». Parecia em festa. As luzes cintilavam e rompiam o espesso manto da noite escura.

A vida havia-se recolhido há já algumas horas, portas e janelas fechadas, tudo dormia. O silêncio tornava aquele momento mais solene e nenhum de nós ousou dizer uma palavra durante muito tempo.

texto http://soprarpalavrasaovento.blogspot.com
fotos http://flickr.com/photos/scarlet-poppy

1 de Novembro de 1911

Ontem, o nosso encontro encheu-me de emoção, de alegria e também de tristeza porque neste tão curto momento ameigaste-me e torturaste-me.
Sim, ameigaste-me com os teus olhares avassaladores, que me atraem para os profundos abismos do teu ser, ameigaste-me com a graça subtil das tuas palavras carinhosas, mas torturaste-me pondo em dúvida que há muito te amo doidamente.

É-me de grande embaraço contar-te com pormenores o que se passou em mim, depois, durante o resto da tarde e à noite. Foi um tempo febril e estranho, um caos qualquer em que os sentimentos mais estranhos, as ideias, as esperanças, as alegrias e os sofrimentos redemoinhavam como o vento. Parecia-me que todas as flores da minha alma tinham sido arrancadas e jaziam dispersas à minha volta, murchas e espezinhadas.

Duvidares de mim que abandonado a toda a tua influência já te não posso fugir, porque a tua presença queima-me como o fogo, sem me preocupar com o género de fogo em que me queimas e me fundes por ser deveras consolador para mim queimar-me e fundir-me!!!

Foste injusta e cruel duvidando do que tenho garantido com os meus juramentos mais sagrados, que por isso não podem nunca ser violados. Mas que queres que faça, para que no teu espírito não haja a menor sombra de dúvida de que te amo e te adoro e de que amarei e adorarei até ao fim da minha vida?

Há alguma coisa no mundo que eu, que te idolatro, possa fazer para te provar o meu profundo e imortal amor e para te apagar a tua desconfiança?

Diz. Elege seja o que for, o maior dos sacrifícios, que sem hesitações de um só segundo cumprirei imediatamente e com o maior dos prazeres para assim poderes adquirir a certeza absoluta de que o amor que te consagro, tendo aberto e entrado no meu coração, nunca mais daí sairá por nele se ter sentado como num trono que se não deixa senão com a vida.

Fez ontem um mês, lembras-te, que as nossas almas se uniram e eu queria dizer-te “amo-te e amar-te-ei sempre com toda a minha paixão, com toda a minha razão, com todo o poder da minha vida”. Mas a tua dúvida, calou-me ao meio dia, junto da Rua do Carmo…

Um mar de beijos do teu


Comments:
Bom dia amiga,
Mais um post maravilhoso...juntamente com os outros que te acompanham isto ainda vai virar património nacional.
Já andas cerdinho, por aí a jardinar...
Um beijo querida
 
E TU LINDEZA QUE ANDAS A FAZER , A ESTAS HORAS?

Já leste o Eça todo ou também andas a jardinar epôr uns bolbos à janela , pelo menos um vasinho de violetas , que são o simbolo do amor!
Beijinhos.
 
Querida Green, que arrepiante coincidência. Só não me alonguei nas fotos.
Bjo
 
Adoro a Rua do Carmo!
Adoro!

Lindo! Lindo!Lindo!
... Mas acho aflitivo amar assim!

beijoca e um dia feliz!
(vejo que tens andado atarefada a mimar a Primavera! que bom!!!!!)
 
Amar assim... sa.ra,

nós não entendemos porque um século passou por cima destas cartas .
as mentalidades e as circunstancias eram outras...
hoje, o nosso timing , o nosso pulsar, o nosso feeling, é outro!

Alguém nos escreveria uma carta daquelas ?
E como reagiriamos nós ?

e estou ainda a "responder" a uma carta publicada pela t. ...
beijos
 
é verdade Greentea... mas a fome de amor não mudou muito, mudou apenas a forma de dizê-lo!

há tanta gente a morrer dessa fome que falta-lhe paenas o jeito, a vontade ou a coragem para gritar assim...

e fome é fome... muita fome é muita fome... dessa que não é bonita, nem boa!

o que me aflige é isso o "morrer de fome" de amor... do amor do outro... e a ausência do amor por si... porque acontece isto: entrega-se o amor que (nos) mata fome a um outro que padece do mesmo quadro de sub-nutrição... e ou é fome ou é amor... e aflige-me... porque vejo as árvores bem amadas por si próprias ... não escrevem cartas assim, claro... mas se escrevessem, escreveriam ao Sol, à terra, à agua... talvez só para dizer "obrigada por tudo o que me dás sem que seja preciso pedir!"

não sei me fiz entender...
:)
beijinho
 
Meu Deus, a paixão está a tomar Lisboa e Sintra! ;-)
 
as árvores crescem com esse sol essa chuva esse vento a noite e o dia o céu e a terra

e ao crescer estão a agradecer à mãe-natura

os humanos crescem também à conta de tudo isso
mas não se dão conta
não retribuem
não se apercebem
renegam at´´e por vezes

e assim vivemos

este amor que as cartas deixam transparecer é um tanto doentio, o dele pelo menos que o dela não o sei; não consigo também viver ese tipo de amor...

ao lado do computador tenho um post it que diz assim:

" UM CASAMENTO NÃO SE CONTRAI.

DANÇA-SE.

POR NOSSA CONTA E RISCO"

em Elogio do Casamento, do Compromisso e Outras Loucuras - de Christiane Singer.

!!!!!!!!!!!!!!!!!
 
Greentea, perguntas se alguém nos ecreveria uma carta daquelas. Eu acho que o amor continua a existir ao longo dos anos, toma é diferentes modos de expressão. Não serão como o desta carta, mas o que importa é o modo muito próprio como cada um o exprime.
 
ehehheheheh!

casar assim deve ser bom!
talvez um dia experimente (outra vez)comprometer-me a dançar ... ehehehhehe!

beijinhos!beijinhos!
 
e não é tão bom dançar assim... ao ritmo que nós imprimimos à musica -
um dia é rock, no outro o tango, a salsa, o merengue, a valsa, até um minuete e por vezes um doce slow...

às vezes até ficamos a dançar sozinhas porque o par não acompanha ou o chão tem pregos ...
mas
aventura é aventura!

e a gente meter-se em amores , é sempre ...uma aventura!
com os seus ritmos
os seus ritos.

e agora
tenho de ir para outras danças.
 
Para o ant

fui responder para ver o teu post.
Eu acho óptimo andarmos à volta do mesmo tema, seja Eça a passear por Lisboa, sejam Manéis , sejam Marias. Há tempos tinha apresentado alguns percursos de elctrico e elevadores de Lisboa, os eléctricos de Sintra-Praia das Maçãs. Acho q os blogues são exactamente isso - divulgação, recordação, exposição de temas e ideias...
Por tudo isso , um beijo para ti.
 
Greentea, o S. do Diafragma + Fotoescrita sugeriu que publicasses as cartas originais, ou pedaços delas, que ficaria engraçado. Como documento histórico, o tipo de letra, o papel...

****

Achei piada ao "um casamento não se contrai". Até porque o verbo "contrair" tem também aquele outro significado de "limitar" que não dá jeito a ninguém, quanto mais num casamento.
 
Bem Greentea, eu voltei, porque me sinto bem aqui.
Olha não jardinagem já fiz. gostava muito, de dançar tambem, falaste em todas as danças modernas e meteste o minuete pelo meio...imaginei-te, qual donsela de mão dada com o seu principe, rodopiando no salão do Castelo da Pena. Fiquei alucinada a ver-vos dançar...
Os vossos dialogos com a minha querida sa.ra...ah meu Deus nem dá vontade de ir embora,...porém estou a olhar para a hora do meu comentario, olho para esta...será que me levantei?...ou não me deitei?
Qualquer dia faço as malas e vou viver para Sintra.
Um casebre onde cheire a rosmaninho que tenha ninhos no telhado. Uma nogueira á porta, um rafeiro a ladrar..sabes?
Até logo. beijos
 
Olá. Eu ja fui lá "sintranegativo", é giro mas há parte que eu discordo... Muito obrigado pela informação. Ah, eu já lhe disse que eu ja vi o teu blog, as fotos no meu multiply, fiquei com surpresa, muito obrigado. Muito obrigado. Se querias mais as fotos, diz-me logo...
P.S. Tenho refazer as fotos no meu multiply mas é preciso resolver as coisas no meu computador porque as fotos estão baralhados.. mas tenho outro computador, as fotos estão organizados.. eh.. eh..
Avec amour, belle femme!
 
Greentea e T.,
Vão ao meu outro blog Palavra Puxa Palavra http://www.outrostemas.blogspot.com/.
Pode ser que achem piada. ;-)
 
Que maravilha! recomendei o teu blog a uma amiga que mora no Brasil e adora Lisboa e os escritores e poetas portugueses,acho que fazes um lindo elogio á terra...
 
Ah! Estou sem palavras!
Vou-me recompor!Já volto...
 
Ah! Greentea, tu és muito querida! Não tenho palavras...
Nem sei que te dizer. Acho bonito o que espontaneamente estamos a fazer juntas. Se fosse planeado, talvez não saísse tão bem, até porque temos tantas coisas para fazer para além disto.
A carta de amor que publicaste, lembro-me ligeiramente dela, não foi a carta que o Vítor escreveu a Genoveva, na Tragédia da Rua das Flores?
Tenho pena, não tenho esse livro aqui ao pé de mim e não posso consultá-lo. Gosto de estar perto dos meus livros todos para poder lá ir espreitar e relembrar detalhes que a memória vai perdendo.
Um beijo
 
Que beleza de post...Fotos de Lisboa, onde namorei, que me dizem muito...
Bjinho
 
Para fotoescrita+diafragma
a sugestão é de considerar mas não aqui e agora
1º porque tenciono inserir esta cartas e outros textos num livro que tenciono publicar

2º estas cartas, recebidas pela minha Avó, foram por ela recopiadas à mão num caderno de capa preta que ela designou "Razão de Uma Vida", omitindo todos os nomes que pudessem identificar o autor e os lugares - não havia fotocopiadores nem digitalização e era esta a única maneira de não destruir as cartas originais que decerto identificariam o seu autor
 
Para a t.

ainda bem que gostaste da ideia de responder à tua carta...
mas não creio que esta seja a carta que Victor escreve a Genoveva, mas tenho aqui A Tragédia e vou ver se encontro. Como disse acima , estas cartas foram copiadas pela mão da minha avó, a partir dos originais que alguém lhe mandava, a menos que ele se tenha servido da cartta de Vitor como modelo, o q não me parece. Penso tratar-se de uma pessoa de elevado nivel social , na época, talvez médico, talvez militar, com cultura superior e muitas referencias literarias nas cartas que li.

Ainda bem que gostáste da surpresa!
Um beijo grande para ti
e coincidencias ou não o ant tb postou sobre tema análogo, falando de Lisboa, sob outras vestes. Vai ver...
 
Passo por aqui, para dizer que fiquei um pouco intrigada com a frase com que começas o comentário no meu blog:
Os blogs são uma arma...

Bem, não sei em que contexto te referes, mas...não entendi para ser franca.

Este teu «post» está o Máximo!
Adorei. Tens muito bom gosto.
E, ainda admirei mais quando acabo de ler que são cartas copiadas pela mão da tua avó. Fantástico!
 
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