sábado, fevereiro 18, 2006

 

Fim à dor emocional






Podemos localizar em nossa vida fases em que uma dor emocional permanece instalada em nós por um longo período - um ano e meio, pelo menos. Vamos dormir sabendo que, ao acordar, sentiremos a mesma dor no peito. Geralmente isso ocorre quando vivemos algo maior do que nossa capacidade de elaborar. A meta de transformar o sofrimento em autoconhecimento faz com que nos sintamos íntimos da nossa dor, tão próximos dela que, às vezes, sentimos pena de deixá-la. Eu me lembro claramente da primeira vez que senti nostalgia por perceber que uma dor emocional estava para acabar. Cheguei a perguntar para Gueshe Sherab: “Será que sem esta dor continuarei aprendendo tanto quanto aprendi ao senti-la?”. Ele riu e me respondeu: “Você não precisa chamar a dor para evoluir, pode ter certeza que sempre haverá sofrimento suficiente para aprender algo com ele. Quando a mente não está sobrecarregada com uma dor intensa, pensa melhor”. Se estivermos sofrendo pela mesma dor há muito tempo, devemos identificar o momento de nos desapegarmos dela. É necessário sentirmos a dor apenas enquanto ela nos ajudar a aprender mais a nosso próprio respeito, ou seja, enquanto ela representar uma forma de ampliarmos a visão acerca de nós mesmos. Parece óbvio que ninguém deseja se apegar à dor. Na realidade, porém, desapegar-se dela talvez seja um de nossos maiores desafios. Aceitar a necessidade de abandonar um padrão emocional, mesmo que ele implique sofrimento, pode ser tão difícil quanto aceitar a morte de um ente querido, pois sentimos como se perdêssemos algo de nós mesmos. Em ambos os casos devemos aprender a fazer o luto. Como escreve Christine Longaker em Esperança diante da morte (Ed.Rocco): “O processo de recuperação da nossa dor pode nos ajudar a viver de maneira mais plena e apreciar cada dia e cada pessoa, como uma dádiva insubstituível. No luto, devemos por fim nos desapegar da pessoa que se foi; no entanto, podemos manter o seu amor conosco. Não somos abandonados na perda; podemos nutrir nossas memórias de amor, e permitir que o amor continue fluindo na nossa direção”. Do mesmo modo, quando nos separamos de um padrão emocional dolorido com o qual convivemos por tantos anos, devemos manter a consciência de sua importância em nosso processo de autoconhecimento: uma forma de gratidão pelo aprendizado. Sogyal Rinpoche sugere o contato com a natureza como um potente método de pôr fim à dor: “Um dos métodos mais poderosos que conheço para aliviar e dissolver o sofrimento é ir para a natureza, contemplar uma cachoeira, em especial, deixando que as lágrimas e a dor saiam de você e o purifiquem como a água que flui. Pode também ler um texto tocante sobre a impermanência ou o sofrimento, e deixar a sabedoria contida em suas linhas trazer-lhe consolo. Aceitar a dor e pôr-lhe fim é possível”. (O livro Tibetano do Viver e Morrer, Ed. Talento).Quando aceitarmos o fato de que podemos experimentar conscientemente nossa dor, então, estaremos prontos para nos liberar dela! Finalmente romperemos o hábito de autocomiseração e estaremos aptos para sermos felizes. A intensidade da dor de uma emoção possui um tempo que lhe é próprio, mas que também tem seu fim. Se ela continuar presente depois de um tempo prolongado é porque a estamos invocando em demasia. É melhor pararmos de invocar essa dor e abrirmo-nos para o desconhecido, perguntando-nos: “Como serei sem esta dor”? Muitas vezes encontramos justificativas nobres para não mudar, quando, na realidade, estamos é precisando ser mais sinceros com nossa fraqueza. A sinceridade é um antivírus contra as interferências interiores e exteriores, pois quando somos sinceros não fazemos rodeios. A sinceridade nos dá coragem e abertura para lidar com qualquer situação, agradável ou desagradável. Desta forma, nos abrimos para o mundo. A falta de foco é um modo de nos protegermos das exigências do mundo, e de adiarmos nossa participação nele. Ao saber quem somos, podemos adquirir a flexibilidade de perceber igualmente as nossas necessidades e as dos outros sem privilegiar nenhuma das partes. Assim, não estaremos amarrados a nós mesmos, nem nos confundiremos com os desejos dos outros. Extraído do livro “O livro das Emoções” de Bel Cesar, Ed. Gaia.
Bel Cesar é terapeuta e dedica-se ao atendimento de pacientes que enfrentam o processo da morte.

Autora dos livros Viagem Interior ao Tibete, Morrer não se improvisa e O livro das Emoções pela editora Gaia. Visite seu Site


Trabalhar num jardim em grupo desperta o encanto pela vida.

Cuidar das plantas com a intenção de gerar cura, nutre a alma, suaviza o coração e ameniza atitudes destrutivas.

Quanto mais apreciamos a beleza, mais beleza descobrimos.


Comments:
Sim, greentea, a natureza tem este poder fabuloso de nos fazer sentir gente com a alma refrescada. E apaziguada. No seu regaço sentimo-nos compreendidos, e é possível falar com ela e ouvi-la.
Belas fotografias para este domingo que aqui está tão cinzento e chuvoso. Um bom domingo para ti.
 
LINDO COMMENT O TEU FOTOESCRITA! Para um dia de chuva ou um dia de sol porque quem sofre tem de deixar de sofrer. A água é uma fonte de vida. A chuva também.
Tem um bom dia, na natureza!
 
e eu que assumi hoje que sou uma serial killer de bonsais, semi-reformada é verdade! Abraço doce e apertadinho para quem sofre, porque sim, é fundamental parar de sofrer. Ser feliz é uma trabalheira, mas é boooooom. Dia feliz, ser dor, para ti
 
A dor como mestre, a paz como sabedoria, a Natureza como ser supremo! Lindo!

Abraços
 
Nada como um passeio até aqui para que o dia se torne mais luminoso. O texto é excelente, as fotos lindas. Um domingo repleto de beleza para ti.
 
Só quando atingimos o fundo do posso, quando a dor doeu tudo e quanto podia doer é que começamos a olhar para a luz... e o caminho é só subir... e subimos de olhos abertos, mais experientes e conscientes do que somos.
Gosto tanto das imagens!
Muito obrigada pelas palavras que me deixaste...
beijinho
 
Concordo que não precisamos experimentar a dor para continuarmos a nossa evolução, embora isso, no mundo físico, na nossa fase de crescimento, não seja muito possível…
Mas compreender, controlar e gerir qualquer dor está ao alcance duma pessoa altamente consciente. O sofrimento descobre-nos caminhos para o crescimento. A dor é uma mensagem da mente que não contém o conhecimento interior.
Apreciar a beleza proporciona-nos um encontro subtil com o transcendente, e mostra-nos a imensidão de outras belezas desconhecidas…
 
Gostei imenso deste texto.
Deixou-me apreensiva, com algumas questões, sem resposta, mas duma maneira geral entendi.
Mas se estivesse diante do terapeuta, ter-lhe-ia contado deta-lhes que o deixariam a pensar.
Depois explico melhor.
Muito obrigada.
Um grande abraço
 
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