quinta-feira, janeiro 05, 2006

 

Facas e foices em Pera de Moço

Um dia na vida de um... cutileiro
FACAS E FOICES PARA O MUNDO
Ernesto Pires, 79 anos

Ernesto Pires é o mais velho cutileiro de Verdugal, em Pêra do Moço, no concelho da Guarda, onde a profissão passou de geração para geração. Aos 79 anos, ainda passa os dias na empresa familiar, onde também trabalham os seus três filhos, que produz facas e foices.

A fama das facas do Verdugal chegou longe, tendo em conta a actividade de Ernesto Pires e do seu irmão Adelino, já falecido, que criaram duas empresas que deram seguimento à tradição dos antepassados.“As facas do Verdugal são conhecidas nos quatro cantos do Mundo. Já por aqui passaram pessoas que dizem ter visto as nossas facas no estrangeiro. Os revendedores compram-nos o produto e são eles que o colocam no mercado”, diz Ernesto Pires.A arte da cutelaria também tem acompanhado o evoluir dos tempos, por isso, neste momento, a fábrica de Ernesto Pires produz 16 tipos de facas e onze de foices, dando-se até ao luxo de fabricar um tipo de foice que é exclusivamente comercializado nas zonas de Mira e de Tocha.Apesar de a agricultura estar em crise, o cutileiro refere que “por enquanto as foices têm saída”. Quanto às facas, assegura que “estão sempre vendidas”.
“Os nossos clientes são sempre os mesmos e como o produto é de qualidade e de marca registada tem a comercialização assegurada. Quando comecei a actividade, em 1948, só se fabricava um tipo de faca, mas agora a produção é de tal ordem que temos uma variedade enorme”, afirma.
CONCORRÊNCIA DESLEAL
O único senão desta actividade, garante Ernesto Pires, é a concorrência desleal feita por artigos importados da China.“Tanto a nível de foices como de facas, o que se passa é uma vergonha. Chegam a Portugal contentores de material que não paga imposto e depois nós é que temos dificuldades em colocar os nossos artigos no mercado, pois por serem de boa qualidade chegam mais caros às mãos dos consumidores”, protesta o cutileiro. Há vários anos que Ernesto Pires só fabrica facas e foices, mas lembra que no passado a sua oficina também fazia enxadas e machados. A arte que herdou do pai e que ensinou aos três filhos, tem segredos que não revela, mas sempre garante que é uma arte “que dá muito trabalho, porque as facas e as foices, até estarem concluídas, levam muitas voltas”. Por outro lado, o cutileiro do Verdugal está satisfeito pelo facto de os filhos terem seguido as suas pisadas.“Hoje, a maquinaria dá-nos uma grande ajuda, porque antigamente não havia electricidade, era tudo feito manualmente”, acrescenta o artesão. Só para se ficar com uma ideia, o fabrico das foices passa por nove etapas. Inicialmente são talhadas (a partir de uma barra de aço de carbono importado directamente da Itália), segue-se a marcação, a feitura da serrilha, a curvatura (em forma de lua), depois são amoladas, temperadas, polidas, levam o cabo em madeira e finalmente são embaladas. As facas dão menos trabalho. São feitas a partir de chapas de aço de carbono e de aço inox importadas de Espanha, que são cortadas numa máquina, consoante a medida das lâminas das facas. As tiras entram depois em moldes e “a cada pancada, sai uma faca”. Seguidamente levam a marca de fabrico e são furadas para posterior aplicação do cabo em madeira.Depois de furadas vão a temperar no forno trinta minutos e são amoladas. Segue-se o momento em que são afiadas, levam o cabo e finalmente são polidas e embaladas.

in Correio da Manhã 01.05.2006

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