sábado, dezembro 03, 2005

 

O NATAL

Para a Beatriz
Também eu sempre detestei o Natal. Não tenho memórias do Natal em pequena , do tal Pai Natal da abertura dos presentes e dessas cenas todas. Mais tarde recordo o cinismo da familia à volta do desgraçado perú, as ofertas das tais cuecas e meias e lenços e loiça de barro e os inicios das iluminaçoes em
Nessa época os nossos rapazes partiam para a guerra do ultramar, morriam passavam mal andavam pra lá a combater sem saberem porquê ou sabendo bem demais q não era aquilo q queriam; achava horrivel festejar o natal assim.
Passei muitos natais completamente só e das duas uma : ou me esquecia q era 24dec ou comprava camarões e uma garrafa de champagne e esquecia ...esquecia...
Um ano passei em Luanda sem neve sem amigos sem iluminações um ou outro presépio alguma arvore com enfeites do tempo colonial, o país estava em guerra havia recolher obrigatorio. Estava alojada num hotel contratado pela empresa onde eu trabalhava. Qd cheguei para jantar já não serviam mais - só se fosse em room-service!!!!!!!!!! Assim foi - pedi um bife pos não havia gde escolha que chegou umas duas horas depois... Tirei uma lata de cerveja do frigorifico e acrescentei uma maçã q tinha trazido de Portugal. Fritos? Rabanadas? Arrozdoce?
Ficaram os sonhos....
Mais tarde recociliei-me com o Natal, passado de uma outra forma longe da cidade e das iluminações e das prendas superfluas e do perú lambuzado de gordura e dos sorrisos hipócritas
Na aldeia juntam-se todos os irmaos e conjuges e filhos e namoradas e netos na casa do avô, agora já falecido mas sempre connosco. Passa das trinta pessoas e almoçamos juntos - sem perús, sem camarões sem falsos enfeites sem arvore de natal na sala. algum arrozdoce, uma mousse de chocolate ou de manga, uns fritos da zona que as netas e as novas cunhadas foram introduzindo algumas inovações. O prato principal pode ser uma feijoada à brasileira ou qualq outro.
Não há discursos, não há a cena das prendas, há simplicidade e ligação uns com os outros.Aparece a toalha de linho bordada à mão pela avó ou por alguma Tia, sai o serviço melhor porque os pratos de todos os dias não chegam mas não há ostentação, supérfluo! É engraçado. Á noite cada um vai para suas casas e aí vem a tradiçaõ e não falta o tal de bacalhau cozido , com batatas e couves a saber a batataas e a couves verdadeiras. E ovos de galinha não de plástico. A lareira está sempre acesa a deitar calor e chama. Quem quer vai depois à missa do galo todos se cumprimentam porque na aldeia haverá cinquenta pessoas +ou-
Durante a tarde os rapazes os solteiros vão buscar toros e arvores velhas, secas q trazem para o largo da igreja. Fazem um monte mais alto que um primeiro andar e depois da missa acendem o fogo para q seja visto das aldeias vizinhas que ilumina e aquece e por ali ficamos na coboiada, na conversa amena, na brincadeira uns com os outros, alguns na memória doutros tempos em q este ou aquele ainda estavam e faziam e aconteciam.
Foi assim q me reconciliei com o natal.
Aqui em Lisboa em 2005 recuso enfeitar a casa com pendericalhos, a minha filha tb não quer e renego as iluminações o consumismo e não uso um cartão de crédito para comprar seja q prenda fôr. Fui comprar comida sim para entregar ao Banco da Fome, juntei roupas e bonecas e jogos e filmes que já não viamos para dar a quem os use , fiz uma manta de lã com restos de fios, juntei outras mantas e dei para os cães abandonados.
Na 6ª feira, dia 23 vamos para a aldeia, talvez esteja a nevar talvez estejam temperaturas negativas . Mas o calor da lareira será bastante, do fogo aceso à meia noite das conversas das recordações das brincadeiras de algum neto - são quinze agora , dos dois bisnetos e mais dois q (para já) vêm a caminho e dos votos que todos fazemos para que haja PAZ, Paz na aldeia, no mundo mas ...sobretudo nos nossos corações.


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