sábado, dezembro 17, 2005

 

Lendas de Avelãs de Ambom

O castelo encantado
A moura que guarda o castelo de Avelãs de Ambom nada tem em comum com as demais. Afinal, garante o povo daquela aldeia entalada entre montes, «esta dá sorte».
Mas o que é certo é que as estórias que circulam são bem diferentes, há quem recorde que certo dia um homem foi fulminado com um raio pela moura à saída de Avelãs de Ambom por este lhe ter tentado roubar o tesouro.
Certo dia, um residente de João Bravo visitou os barrocos do castelo de Avelãs de Ambom, movido pela ganância e atraído por um pote recheado de libras de ouro. Diz o povo que as moedas de ouro não encontrou e muito menos a moura que as guarda há séculos naquele cume de rochedos, a 800 metros de altitude e a 250 metros da ribeira de Massueime. Mas o que é certo é que aquele valente nem chegou a sair da povoação, não se sabe bem como mas «um raio fulminou-o», quando se preparava finalmente para fugir da aldeia. «Talvez tivesse sido a moura num acesso de raiva, por aquele estranho lhe ter tentado roubar o tesouro», conta Agrelo dos Santos, um residente de João Bravo a quem esta estória foi contada há muitos anos atrás. «Olhe que em Avelãs de Ambom toda a gente conhece a história!». Puro engano. É que afinal a visão da moura do castelo em Avelãs é completamente diferente da contada por Agrelo dos Santos. «Dizem que a moura do castelo dá sorte!», garante Amândio Sequeira o homem mais velho da aldeia que é também o avô do presidente da Junta , do alto dos seus respeitosos 92 anos. Amândio Sequeira nem chegou a conhecer o seu pai. «Morreu quando eu nem tinha um ano feito», conta. Mas recorda, como se fosse hoje o que os mais antigos contavam na aldeia. «Diziam que existia no castelo uma moura encantada, mas eu nunca a vi», refere com um sorriso franco. Os terrenos agora abandonados, bem perto do barroco, eram outrora aproveitados pelos pastores para sevar o gado, mas Amândio Sequeira não se recorda de alguma estória contada pelos homens que passavam tardes inteiras junto ao castelo. «Apenas diziam que andava lá a moura», e mais não disse.
A história das estórias
Considerado como local de interesse turístico, pelo "Guia de Portugal" de Santana Dionísio, há quem defenda que em tempos naquele lugar íngreme, a uns bons metros do cemitério da aldeia, se erigiu uma torre, qual castelo altaneiro, no cimo da colina toda ela verde e coberta pelas giestas. E apesar da ruína aparente daquele amontoado de pedragulhos, reza a história, que o castelo de Avelãs de Ambom terá sido reconstruído em três fases distintas, a primeira, pelos reis portugueses durante a primeira dinastia, a segunda, aquando da restauração da Independência e a última já durante as invasões francesas.
Constituído por uma torre e uma cerca amuralhada, o castelo tem ainda vestígios de um castro e enquadrava-se no sistema defensivo da região beirã.
O local foi habitado por povos lusitanos, vindo a ser mais tarde romanizado, não existindo, no entanto qualquer relação com os povos mouros, que por ali não terão sequer passado. A moura do castelo, tal como em outras aldeias do distrito da Guarda, acaba por ser uma personagem ligada ao imaginário popular.
A estrada de São Tiago
Mas nem só das rochas do castelo de Avelãs de Ambom se contam estórias, na aldeia há quem defenda que outras pedras, situadas no lado oposto do povo, foram outrora o «lugar de repouso de São Tiago», na sua visita à Península Ibérica. Num barroco ficaram marcadas as quatro pegadas do cavalo, uma fenda onde o santo pousou a espada e ainda uma pia, que, garante o povo, servia para dar de beber ao cavalo. Paulo Figueiró, neto de Amândio Sequeira, com 22 anos, recorda-se de ouvir a estória contada pela sua mãe. «Todos os dias, ao fim da tarde uma nuvem dirige-se para os barrocos de São Tiago, encobrindo as pedras por completo». Ao fenómeno baptizaram-no de "estrada de São Tiago", conta o jovem.

Susana Adaixo, in Terras da Beira

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